Opinião

Crítica: você já assistiu “Ted Lasso”?

A história de um treinador de futebol americano, que caiu de paraquedas em um time da Premier League sem entender nada de futebol e que conquistou fãs pelo mundo inteiro teve seu último episódio no último dia 31 de Maio

Por Leonardo Lopes

Foto: Divulgação/AppleTV+

Durante três temporadas pudemos acompanhar um homem extremamente altruísta interpretado maravilhosamente por Jason Sudeikis, à frente do AFC Richmond e nos perguntarmos a todo momento “como alguém pode ser tão bom assim?”.

A série que estreou em 2020 no ápice da pandemia, cativou por sua leveza e descontração em um momento tão difícil de das vidas humanas, mas também por trazer temas e debates sérios e importantes para a sociedade de uma forma amigável e transparente, com boa parte das questões sendo resolvidas dentro de um vestiário de futebol.

Futebol esse, que é possível dizer que é o menos importante de Ted Lasso. Você obviamente se importa, torce pelas vitórias e sofre com as derrotas do Richmond, mas isso se dá pela identificação com os personagens, pois cada um que conta com tempo de tela é amável por motivos e personalidades completamente distintos. Isso, por consequência de atuações espetaculares e principalmente de um roteiro que sabe envolver o telespectador sem precisar de gigantescos acontecimentos.

Ted Lasso sempre contou com a simplicidade de um roteiro que transborda emoção e amor pelas telas, mas isso sem perder a essência de uma série que tem os pés cravados no chão e é completamente genuína.

O sucesso se estabeleceu, fazendo com que a produção vencesse os Emmys de melhor série de comédia em suas duas primeiras temporadas, também fezendo a dobradinha nos Emmys de Melhor ator em série de comédia para Jason Sudeiks, e melhor ator coadjuvante em série de comédia para Brett Goldstein, o que também contribuiu para que ele ganhasse o papel de Hércules nos filmes da Marvel Studios. Além disso, Hannah Waddigham venceu a categoria de melhor atriz coadjuvante em melhor série de comédia no ano de 2021.

As duas primeiras temporadas são surpreendentes e encantadoras, deixando o telespectador com o coração aquecido em diversos episódios, que trazem não apenas a risada, o otimismo de Ted, os devaneios de Beard (Brendan Hunt) ou a fragilidade de Nathan (Nick Mohammed), mas sim tudo isso combinado em camadas com um objetivo muito claro; refletir o real significado sobre diversas questões da vida, nos colando para pensar no que realmente tem valor e aonde eles estão.

A série passa por discussões fundamentais e temas presentes assiduamente no ambiente futebolístico.  Racismo, homofobia, machismo e a injeção de dinheiro com origem questionável por meio de patrocinadores são alguns dos tópicos trazidos para uma série que certamente atingiu e irá atingir fãs de futebol, um meio que infelizmente ainda conta com uma parcela alta de pessoas reacionárias.

A terceira temporada da série é de longe a mais irregular, com arcos desnecessários e sem saber aonde querem chegar, os doze episódios da última temporada parecem ser demais.

Se o roupeiro promovido a assistente do time, Nathan Shelley, termina a segunda temporada quase como protagonista, com um grande destaque e com uma peça chave para o futuro da série; na terceira temporada todo o seu arco é resolvido de maneira irrisória e simples, a ponto de pensarmos que os criadores não sabiam o que fazer com o personagem ao longo da temporada.

Outros dois arcos que são destaques bem negativos da terceira temporada. A agente de relações públicas, Keeley Jones (Juno Temple), agora tem um novo emprego, sua própria agência e também uma namorada, abordando questões importantes como relacionamento abusivo e o tabu da bissexualidade. Porém, tudo isso se perde no meio do caminho e sai da série de maneira abrupta e sem grandes consequências. E o que falar de Zava? O craque todo egocêntrico, com estilo e manias únicas que vem para ajudar o Richmond? No fim, o personagem de Maximilian Osinski (Agents of Shield) não traz nada de relevante para a série em sua pequena participação. Ao fim da season, o seu esquecimento é bastante provável.

Mas nem só de coisas ruins viveu a terceira temporada de Ted Lasso. Muito pelo contrário; o saldo final é bastante positivo. As questões psicológicas vividas por Ted, que são abordadas desde a primeira temporada continuam aqui e com uma resolução muito bonita. O arco de Rebecca Welton (Hannah Waddigham), a proprietária do time, é redondo durante toda a série e encerrado de maneira belíssima, com a personagem chegando a conclusão de que não precisa provar nada a ninguém e que o Richmond é muito mais do que uma vingança, é na verdade, parte intrínseca de sua vida.

O ex-jogador e ídolo do Richmond, Roy Kent (Brett Goldstein) é disparado um dos melhores e mais bem trabalhados personagens da série. A figura do homem extremamente másculo, turrão e que só conta com palavrões em seu vocabulário é desconstruída aos poucos durante toda a série, convergindo com o seu principal contra ponto, seu antagonista Jamie Tartt (Phil Dunster). O jogador exibicionista, cheio de marra e individualista é outra figura essencial para a série, tendo uma trajetória de transformação grandiosa, muito beneficiada pela excelente atuação de Dunster. Sua relação com Roy, envolvidos em um trisal com Keeley é por muitas vezes o ponto alto da atração.

Ted Lasso se despede dos fãs os deixando com os olhos aguados, com um final justo e digníssimo de uma série alegre, extrovertida e apaixonante, mas sem nunca abandonar a simplicidade.

Futuro? Talvez. Todas as pontas são muito bem encerradas, mas brechas existem, principalmente para possíveis spin offs. Mas mais importante do que isso, Ted Lasso concluiu sua história com o objetivo alcançado e com uma mensagem muito bonita transmitida.

Atualização: A AppleTV+ anunciou no dia 14 de março de 2025, um ano e oito meses após o fim da terceira temporada , que série foi renovada para a quarta temporada, que ainda não tem previsão de estreia.

As três temporadas de Ted Lasso estão disponíveis no AppleTV+.

Elenco: Jason Sudeikis, Brendan Hunt, Brett Goldstein, Hannah Waddigham, Phil Dunster, Juno Temple, Nick Mohammed, Jeremy Swift, Toheeb Jimoh, Cristo Fernández, Billy Harris, Anthony Head, James Lance, Kola Bokinni, David Elsendoorn, Stephen Manas, Charlie Hiscock, Moe Jeudy-Lamour, Annette Badland, Sarah Niles, Moe Hashim, Nonso Anozie, Adam Colabore e Bronson Webb.

Criadores e Produtores: Jason Sudeikis, Brendan Hunt, Bill Lawrence, Joe Kelly, Jeff Ingold e Bill Wrubel.

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